03 março, 2008

Independência

Quando é que somos crescidos? Onde é que está a linha que separa a adolescência da adultícia? Quando é que podemos olhar para nós mesmos e pensar "já sou crescido"? Hoje em dia parece que a independência é algo que leva anos a conquistar. Demora tanto tempo que até nos esquecemos que é para isso que lutamos. Antigamente é que era: a malta começava a a trabalhar, casava, saía de casa dos pais, tinha filhos. Agora estas prioridades estão todas trocadas e já ninguém se entende. Até podemos trabalhar, mas pode levar anos até podermos sair de casa dos pais, e quando essa altura (finalmente) chega já estamos demasiado habituadas à boa vida para querermos casar. Ou sequer para nos habituarmos a viver com alguém. Parece que já não sabemos fazer sacrifícios. Tem que ser tudo fácil, já e sem muita confusão. Se não mudamos de esquema. Onde está a sensação de conquista que é ter o primeiro apartamento? Mesmo que a sala seja sala/escritório/quarto, que o jantar seja feito de pé no balcão da cozinha e a casa de banho tenha pouco mais que um metro quadrado. É a NOSSA casa. Pagamos com o nosso ordenado miseravel, mas pagamos! Onde está o orgulho em pagar as contas todos os meses, mesmo que para isso tenhamos que andar em casa de luz apagada (numa casa tão pequena torna-se fácil conhecer os cantos, não tem nada que saber) e fechar a torneira enquanto pomos champô no cabelo? Essas são, para mim, as conquistas que separam os fortes dos fracos, os independentes dos semi-independentes. O que importa se moramos ali no Martim Moniz, com uma data de drogados à porta, se eles até nem nos fazem mal. O que importa se os nossos amigos têm que se amontoar em sacos-cama na sala quando lá vão dormir, se de qualquer maneira ficamos na conversa a noite toda e pouco se dorme. A juventude já não gosta de acampar, de andar de comboio de mochila às costas, de comer enlatados durante 15 dias e guardar o dinheiro para coisas mais importantes. A malta quer é hotel, com room service, avião e restaurantes com menus de degustação. Cambada de pandeleiros... Acho que esta experiência de viver com pouco, de aprender a viver com pouco, é das etapas mais importantes da nossa vida. Até porque da forma como o país está é, cada vez mais, uma aprendizagem para a vida...

2 comentários:

katie disse...

AH muito bem dizido sim sra! Gostei muito deste post, tás lá! :D

*Filipa disse...

Eu ando à procura de casa, e até ao fim do ano tenho que arranjar trabalho pra a pagar... São escolhas que se traduzem em conquistas como dizes. E no fim, mesmo com as contas a acumular, mesmo com horas de trabalho em cima vai sempre saber bem sentar-me 5 minutos no sofá e saber que é tudo devido a mim, ao meu esforço, e que é minha. E essa conquista ninguém ma vai conseguir tirar...

P.s: Enlatados não deves precisar, mas o saco-cama quando me fores visitar talvez seja preciso porque os T2 são caros como tudo!! =)