28 janeiro, 2008

Tá fresquinho hoje! Este fim de semana descansei como não descansava há muito tempo. Mas vamos ao que é importante: vou ter um carrito! Lá lá lá! Ainda não sei muito bem quando, mas sei que está para breve! Só de pensar que vou deixar de ter que andar à chuva e ao frio, carregada que nem uma mula até me dá vontade de dar pulinhos de alegria. Sim, claro que vou apanhar trânsito e essas coisas todas, mas trânsito também se apanha de autocarro e ao menos assim se me cheirar a sovaco é culpa minha. No more cheiro a sovaco alheio! No more perfume dos trezentos às 7 da manhã! Abaixo a hora de ponta no metro! Até vou poder tirar macacos do nariz quando tiver parada no vermelho (como faz a grande maioria dos portugueses...) Posso cantar em plenos pulmões o que me apetecer, posso falar sosinha e, o mais importante disto tudo: se a meio do caminho me der vontade de ir à casa de banho, posso ir sem ter que sair do autocarro para depois ficar mais de uma hora à espera do próximo. Todos os meus sentidos agradecem este upgrade: o olfacto já bate palminhas, a bexiga aperta-se de alegria (lá tenho que ir à casa de banho) e as minhas cordas vocais afinam-se para dar verdadeiros concertos matinais. Por isso, pessoal da hora de ponta, se virem alguém a cantar feliz da vida às 6 e meia da manhã, há uma forte probabilidade de ser eu (ou alguém como eu, que tenho a certeza que não sou a única...) E prontos, a modos que é tudo

P.S: não consigo justificar o texto porque os computadores da CVPaz não são lá grande coisa e não aparece essa opção. Enfim, tem que ser mesmo assim...

25 janeiro, 2008

Sentidos

É impressionante o que as pessoas fazem quando estão desesperadas. Há coisas que nunca me passaram pela cabeça. Quando se está na rua é como se a nossa cabeça se fosse alterando para se adaptar. Às tantas damos por nós a funcionar de uma forma que, em qualquer outro contexto, seria completamente desadequada. Progressivamente vai-se perdendo tudo: o cuidado com a aparência, a preocupação com a hegiene, e no fim, o próprio amor à vida. É por isso que muitas pessoas não querem sair da rua. Simplesmente já não querem saber de nada. Há uns tempos fomos falar com um senhor que dorme nas escadas da Igreja de Arroios, conhecido como o "Campeão". "Campeão" porque ninguém bebe tanto bagaço como ele, especialmente logo de manhã. Obviamente este homem não quer sair da rua, ele mesmo diz que na rua é que está bem. Pois claro. Sair da rua seria admitir que não é nenhum campeão, era roubar-lhe a unica identidade que tinha, ainda por cima uma identidade que, para ele, é positiva.
É nestas coisas que, muitas vezes, se falha. Sair da rua não é simplesmente sair da rua. Não é pô-los numa casa. Li algures num livro que os técnicos fazem exigências aos sem-abrigo do género "só tem que tomar a medicação" ou "só tem que deixar os consumos". Isto, na minha perspectiva, está errado. E longe da realidade. Cada vez mais se aceita que a reabilitação de um sem-abrigo, tenha consumos ou não, passa por uma intervenção que toque todos os aspectos da vida: a casa, o trabalho, os consumos, a familia, a saúde física e mental. Eles têm que procurar um novo sentido para a vida, aprender a viver de novo em sociedade. Na nossa sociedade. E isto não é fácil, nem rápido e muito menos barato. Ao contrário do que as pessoas pensam é relativamente fácil cair nesta situação. E muitos deles são pessoas potencialmente productivas. Desde que cheguei à Comunidade Vida e Paz conheci mais pessoas especiais do que em qualquer outra altura da minha vida. E saber que conseguem, efectivamente, recomeçar uma vida que quase perderam, é algo que me preenche como nunca nada preencheu até hoje. Bolas, gosto mesmo de trabalhar aqui!

17 janeiro, 2008

E a Lei dos Bolos não?

Há já alguns dias que não postava nada... Bem para falar a verdade há já quase um mes... Que vergonha! Mas também tenho que responsabilizar os meus colaboradores que quase nunca postam nada!
Enfim... O natal foi bom? A passagem de ano também? Óptimo, é o que se quer...
Agora que estas coisas todas já estão despachadas, podemos falar de coisas mais a sério. Sei que já todos os blogs devem ter falado sobre isto e que aquilo que eu vou escrever não é nada de novo, mas a lei do tabaco já me está a enervar. Quer dizer, não é a própria lei em si, mas a atitude das pessoas perante aqueles que fumam. Semprei achei que era um bocado chato os não-fumadores tarem sujeitos ao nosso fumo, mas, e para ser sincera, tentava não pensar muito nisso, era mais confortável para mim. No entanto, quando alguém estava a comer, ou quando estava com bebés evitava fumar pra cima dessas pessoas. Acima de tudo, nunca olhei para eles como "saiam daqui, estão a perturbar o meu fumo com o vosso ar puro". Agora que a lei saiu e que fui obrigada a vir fumar prá rua e a admitir que é um bocado chato os outros levarem com o meu fumo, apercebi-me de um ódio calado face aos fumadores. Durante todos estes anos, os não-fumadores acumularam um ódio aos que os obrigavam a respirar fumo. Nos bares, nos restaurantes, nos cafés, nos concertos. E agora, esta lei veio libertar esse ódio recalcado e essas pessoas sentem-se no direito de tudo. A melhor que já ouvi foi um cartaz num restaurante a dizer "Proibida a entrada a cães e fumadores". Isto é normal? Nunca foi proibido proibir o fumo em lado nenhum. Mesmo antes de sair a lei os donos dos espaços podiam proibir o fumo, se não o fizeram com medo de perder clientela então isso já não é da responsabilidade dos fumadores, são opções dos donos. Por isso não venham agora com esta raiva acumulada como se tivessem que esperar estes anos todos para proibir seja o que for. Isso já podiam há muito tempo. Da mesma forma que há muito tempo que existem espaços para fumadores separados do resto do espaço. Então qual é o drama? Deixem lá os fumadores em paz! Não basta já termos que fazer grupinhos tipo sala de chuto à porta dos cafés, como ainda temos que se olhados pelos que ficam lá dentro como se fossemos uma cambada de criminosos. Vou começar a olhar assim para todas as gordas que vir no café a enfardar bolos, para todos os homens gordos que vir no restaurante a comer que nem bestas. E vou-me chegar ao pé deles e dizer "os meus impostos não são para lhe pagar a banda gástrica seu animal! Faça lá o favor de comer como deve ser!" Afinal de contas, deixar de comer feijoada à transmontana e passar a comer insípidos queijinhos frescos não dá ressaca pois não? Então porque é que há tanta gente gorda? Não podemos proibir as pessoas de comer bolos dentro dos cafés? Eu fico muito mais tentada a cagar nas minhas bolachinhas quando ao meu lado alguém se alambaza com uma ganda bola de berlim com creme. Sou obrigada a assistir ao deleite dos outros? Isso prejudica os meus bons hábitos alimentares...