29 fevereiro, 2008

Psicologia

Acebei de ler um artigo onde se fala nos cursos que mais pessoas mandam para o desemprego. Psicologia é, obviamente, um deles. E agora? Não é que os psicólogos não façam falta, a realidade é que fazem (cada vez mais) falta, só que isso não é reconhecido. Ou se o é, ninguém faz nada em relação a isso. Sinto que há uma cultura de "psicólgo de gabinete". A ideia que as pessoas têm do psicólgo é alguém excêntrico, com umas ideias malucas, que "tem umas conversas" com pessoas que "têm problemas" e que se escondem atrás de testes e portas fechadas. E à conta desta brincadeira a população em geral não sabe muito bem o que é o trabalho de um psicólogo nem tão pouco para que é que serve. Nunca me identifiquei muito com o trabalho de gabinete, seja em clinica privada ou num hospital/centro de saúde. Acho que ia sofucar. E a formação que temos dá para fazer coisas tão maravilhosas, que ficar unicamente fechado numa sala me parece um bocado redutor. E o Governo, como não podia deixar de ser, não ajuda. Não se abrem vagas para o Sistema Nacional de Saúde há anos. Não se contratam psicólgos para as escolas há mais de uma década - e todos sabemos como faz falta alguém com conhecimentos técnicos para ajudar os alunos, não só com problemas de aprendizagem, como professores na gestão da sala de aula e de comportamentos disruptivos e os próprios pais e a ligação destes à escola. Os psicólogos não trabalham com malucos. Ou pelos menos não é só isso que fazemos. E não temos "conversas" com as pessoas. Há uma infinidade de técnicas, reconhecidas e usadas lá fora há anos, que aqui não passam de ideias de vanguarda, mas ainda assim, ideias. E pensar que há pessoas que sofrem - seja com o que for, e há muito mais para além da depressão - e que não usufruem dos conhecimentos técnicos e teóricos que existem porque nasceram em Portugal, onde qualquer alteração demora séculos (em alguns casos literalmente séculos) a acontecer. Mas enquanto estudante e pré-profissional o meu papel neste momento é forçar estas barreiras e estes bloqueios. E é, de facto, um grande desafio.
Não me queria ir embora, sem antes falar nas noticias que li sobre o Prozac. Tenho uma atitude muito clara acerca dos medicamentos psiquiátricos. Reconheço a sua utilidade em situações extremas, mas é preciso reconhecer que uma depressão (para falar em algo que as pessoas conhecem, pelo menos minimamente) não se cura com medicamentos. Eles disfarçam os sintomas, aliviam o sofrimento, mas a causa do sofrimento continua sempre lá. Não acredito que a medicação resolva nada, apenas ajuda as pessoas a minorar o sofrimento. O que acontece é que, na maioria das vazes, quando se retira o medicamento as pessoas voltam a sofrer, porque o sofrimento esteve sempre lá, apenas disfarçado. E depois têm três soluções: ou voltam à medicação e habituam-se a viver pedradas, ou acomodam-se ao sofrimento e aprendem a lidar com ele (a maior parte das vezes ignorando-o e agravando-o) ou procuram outras soluções. E é aí que surge o psicólogo. Claro que a minha opinião é suspeita, mas imaginem assim: uma pessoa tem um cancro num sitio qualquer. Pode tomar comprimidos para as dores e até nem lhe doer nada, mas o cancro continua sempre lá a menos que se faça alguma coisa em relação a isso. Claro que se a pessoa tiver em demasiado sofrimento por causa das dores não consegue funcionar nem aguentar o tratamento oncológico, mas se esse sofrimento for minorado ou aliviado de alguma forma, então fica disponivel para iniciar os tratamentos - que também comportam sofrimento - para o verdadeiro problema. No cancro o problema não são as dores, é o cancro. Na depressão, o problema não é a tristeza, é a causa da depressão. Pode-se disfarçar a tristeza, mas a causa vai sempre lá estar e, logo, a depressão também. Ainda que o possa estar de uma forma mais ou menos latente, silenciosa.

1 comentário:

katie disse...

Concordo com o que dizes mas apesar de tudo acho que cada vez mais se está a desmistificar o trabalho do psicólogo. Embora a maioria das pessoas não tenha uma noção clara das suas funções, já está a deixar de ser tabu ir a um psicólogo. Isto é meio caminho andado… É claro que há barreiras e há um mau aproveitamento de conhecimentos, mas acredito que isso irá mudar, faz parte da evolução. E já que o governo não dá o apoio necessário, cabe aos profissionais e futuros profissionais mostrar (ainda mais) que não são úteis apenas dentro de um gabinete. Há um mundooo de maluquinhos a precisar de ajuda :PP
Quanto ao Prozac… não sei mas, se eu pudesse, distribuía-o por muito boa gente… ehehehh