Hoje no trânsito a caminho de Lisboa, vinha um homem atrás de mim numa carrinha Seat. Um homem gordo, daqueles que assim que se olha para ele mete logo nojo, com ar de quem tem a mania que manda e que é gente. Vinha com ar de quem vem sentado numa sanita, badocha mete-nojo, com uma papada enorme a transbordar do colarinho. Tão a ver a ideia. E vinha aquele grande filho da puta, encontado a minha traseira como se quisesse vir na minha mala o resto do caminho, e ainda me tentou ultrapassar pela direita. Tentativa que foi falhada, não só porque a fila do meio estava a andar muito mais devagar, como também não havia espaço para ele se meter à minha frente. Enfim, estava trânsito, ninguém podia andar mais depressa. Mas ele, como gordo omnipotente que é, achou que sim. Mas achou mal. Nem sei como não fui contra o desgraçado que ia à minha frente, tanto foi o tempo que fui a mirar o badocha que ia atrás de mim... Durante este tempo que ia a dizer mal da minha sorte - os engracadinhos vêm sempre atrás de mim - lembrei-me: o que diria o Freud desta gente que gosta de conduzir dentro da mala dos outros? Serão todos paneleiros? Não podem ver uma traseira que se chegam logo? Se calhar é mesmo isso, em caso de travagem brusca não podem perder a oportunidade de enrabar o desgraçado que vai à frente deles... Outra consideração que fiz enquanto observava este especime foi: serão estes gajos felizes? Quando olhava para ele só o conseguia imaginar como pai de dois filhos mimados e insuportáveis, com uma mulher de quem ele já não gosta e com quem está sem saber muito bem porquê, com uma sogra que ele odeia de morte e que o faz sentir-se um incapaz, com uma mãe protectora aos olhos da qual ele é o menino perfeito, que tem sempre razão. Com um emprego me(r)diocre, que não lhe tras satisfação nenhuma e para o qual ele se arrasta todos os dias, irritado por existirem outras pessoas no mundo. Imagino-o a ir para Sesimbra ou para a Costa aos fins-de-semana de sol, e para o Forum nos que está a chuver, com os putos dentro do carro a fazer birra. E ele irritado, todos os dias, com tudo e com todos. Com um ódio calado à vida que leva.
Por isso meus amigos da hora de ponta, quando forem dentro dos vossos carros muito descansados a achar que ninguém está a olhar para vocês, e que até podem tirar macacos do nariz e coleccionar debaixo do banco, pensem duas vezes, porque há mais pessoas como eu, que vos vão a observar e a tentar imaginar como é que são em família, no trabalho, fora daquele trânsito matinal...
2 comentários:
E aqueles gajos que metem películas nos vidros todos para ninguém os ver lá dentro a tirar macacos? Ah pois é! You can't catch them all!!!!
Ó shark mas não metem no vidro da frente pois nao? tirem macaquinhos tirem..
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