Há uns dias perguntaram-me se eu não ficava com vontade de pegar nos sem-abrigo que encontrava na rua e de os levar para casa, de lhes dar banho e de comer. Na altura respondi que não. Mas agora sinto-me de maneira diferente. Às vezes dou por mim preocupada de eles conseguem ou não. Porque me parece que estão ali num estado meio borderline entre o conseguir e o desistir de vez. E não há forma de lhes garantir que eles conseguem mesmo, é preciso que eles mesmo acreditem. Apesar de tudo há sempre aqueles que não conseguem. Já tinha ouvido falar no poder da droga (seja ela qual for, e todos temos a nossa) mas nunca o tinha visto. A cada dia que passa vou-me apercebendo que ouvir falar, ler e ver ao vivo são coisas tão diferentes que nem parece o mesmo. E de facto, não é. Por outro lado, a minha imaginação não tinha capacidade para criar cenários tão dramáticos, tão cheios de angústia, tão desesperados, mas ao mesmo tempo tão lutadores, tão determinados e, por vezes, tão bem sucedidos. E no fundo é por esses dias que se trabalha.
07 novembro, 2007
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