Procurar emprego não é a mesma coisa que procurar trabalho, porque trabalho há por aí ao pontapé, emprego é que não. Passo a explicar: um trabalho pra mim era ir pra caixa do supermercado, pra um call center, ou seja, era fazer qualquer coisa pra ganhar dinheiro. Um emprego pra mim era ser psicóloga. E já nem sou esquisita, queria exercer a profissão que escolhi e para a qual me preparei fosse onde fosse. Eu percebo esta diferença, o problema é que parece que sou a única. As pessoas ficam admiradas e indignadas (!) quando eu digo que não quero ir ali prá caixa do pingo doce e começam logo com o discurso do "ah mas na tua área não acredito que encontres nada". Maravilhoso! Este tipo de discurso dá-me ideações psicopatas. Sim, eu sei que é dificil, mas enquanto eu tiver que viver na frustração de não encontrar e de me sujeitar a condições cujos macacos rejeitariam, agradecia que não me massacrassem com discursos fatalistas e pessimistas! Não quero que me iludam com histórias de pessoas que conhecem e que encontraram trabalho logo depois de acabar o curso e hoje são multimilionárias. Simplesmente não quero que me digam nada. Deixem-me em paz com esse assunto. Quando eu quiser conselhos e opinões de alguém, peço. Já é desesperante o suficiente não saber quanto tempo vai durar esta situação de desemprego. Já é angustiante o suficiente não saber, uma vez empregada, quanto tempo é que isso vai durar. Já é deprimente o suficiente saber que provavelmente vou trabalhar com recibos verdes que nunca me vão dar estabilidade nenhuma. Isto chega! Não é preciso mais! Não me chamem quando estão a dar notícias sobre o desemprego na televisão. De que é que me serve saber que há um milhão de desempregados no país e que a maioria são recem licenciados e especialmente mulheres? O que é que me interessa que as mulheres ganhem em média menos 17% que os homens pra fazer exactamente o mesmo? NÃO QUERO SABER! Pode ser sinal de ignorância minha, mas neste momento a ignorância permite-me alguma paz de espírito e, acima de tudo, permite-me continuar a acreditar que algures neste país há uma vaga à minha espera.
Pronto, foi o desabafo de uma desempregada (entre tantas outras). Espero daqui por meses olhar pra isto e sorrir. Até porque se isso não acontecer eu vou começar a inundar este blog com desabafos deste género cada vez com mais frequência.
P.S.: alguém já tinha reparado que a palavra "desabafos" é mesmo estúpida? Não sei porquê mas faz-me pensar em peidos...
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